O Trabalho
A palavra trabalho pode apresentar
várias interpretações. No dicionário Aurélio, seu significado está ligado à
aplicação de força e faculdades humanas para alcançar um determinado fim.
A palavra trabalho se originou do latim – quer dizer tripalium, um instrumento utilizado até o final do século XVIII na agricultura. Nos séculos seguintes foi usado
também como ins- trumento de tortura, vindo associar trabalho a sofrimento e suplício. É notória a idéia de tormento, de algo penoso inscrita no inconsciente do ser humano; haja vista que o mes- mo vivencia o trabalho da forma em que o concebe psiquicamente através do sofrimento.
Tripalium Romano |
A concepção e o conceito de trabalho são históricos; eles vêm se desenvolvendo ao longo de toda a hu- manidade. O trabalho é vivido por homens e mulheres desde a simples solução de sobrevivência até como condição de realização e reconhecimento pessoal. Há toda uma subjetividade implícita que leva os indivídu- os a viverem seu trabalho também de forma emocional. O trabalho é uma atividade vital para aquelas pessoas que ainda dis- põem de energia e saúde. É através dele que as mesmas se sentem úteis, estabelecem grande parte de suas re- lações, alimentam sua auto-estima dan- do significado a si mesmos e a vida. O trabalho traz consigo um caráter de intermediação entre o ser humano e a natureza, assinalando a passagem do ser biológico para o ser social. Ele propicia o engajamento do indivíduo no social estabelecendo e expandindo relações entre as pessoas. Para Marx; Engels (1999), a importância do trabalho na vida das pes- soas é central, é ação que transforma a realidade e propicia alteração da vi- são que têm do mundo. Ao analisar o trabalho de forma detalhada refereo, como um processo de transformação que faz parte da essência humana.
Aquilo que eles são coincide, portando, com sua produção, com o que produzem e também como produzem. Aquilo que os indivíduos são depende, portanto, das con- dições materiais de sua pro- dução (MARX; ENGELS, 1999, p. 75).
O trabalho é ação ou resultado de determinado esforço realizado pelo homem e pela mulher; essa capacidade de trabalho é percebida na sociedade capitalista como uma mercadoria que é comprada e vendida. Essa relação se torna determinante com a Revolução Industrial, passando as pessoas a trabalharem mediante contrato. O sujeito
detentor da força de trabalho passa a ter que satisfazer as exigências de quan- tidade, prazos, especificações do produto e valor combinado. Essa inter-relação de compra e venda da força de trabalho irá estruturar o nível socioeconômico e pessoal de cada indivíduo na sociedade, limitado a nível salarial, fator este que vai definir como se diverte, com quem se relaciona, onde mora, o que se alimenta, o que tem de bens materiais. Essa inter-relação vai também especificar os horários que a cumprir, seu tempo ocioso, seu lazer, enfim, dão identidade ao indivíduo na família e na sociedade. Com o desenvolvimento tecnológico, as indústrias e as organizações estão cada vez mais automatizando suas tarefas. São tecnologias que viabilizam um processo rápido e eficiente de maior produtividade e lucro. No Manifesto Comunista escrito em 1848, Marx já previa que, num futuro não muito longe, a vida das pessoas seria invadida pela tecnologia e as con- seqüências adviriam.
“A máquina invade, cada vez mais, o campo de ação do operário manu- al” (MARX; ENGELS, 1999, p. 42).
Esse processo de automação leva à fragmentação psíquica, na medida em que o trabalho é fragmentado e desti- tuído de significado. Essa forma de produção tira do ope- rariado a posse do produto; não é ape- nas o produto que não lhe pertence mais, ele próprio deixa de ser o centro de si mesmo. O produto assume valor superi- or ao ser humano, provocando tal desumanização que o leva a coisificação, sendo ele próprio transformado em mer- cadoria ao ter sua força de trabalho ava- liada em preço de mercado:
[...] o homem comum alienado perde a compreensão do mundo em que vive e torna alheio à sua consciência um segmento importante da rea- lidade em que se acha inscri- to(ANTUNES, 1988, p. 59).
Mundo do Trabalho
O conceito de mundo do trabalho engloba
outros fatores além da função laboral no sentido estrito. Por mundo do trabalho
entendem-se as atividades materiais, produtivas e os processos sociais
inerentes à realização de um trabalho, que lhe conferem significado no tempo e
no espaço.
A história do trabalho é intrínseca à da
sociedade porque é ele que nos proporciona as condições de sobrevivência e,
mais do que isso, de produtividade criativa que faz bem à nossa autoestima e
vivência social.
Por meio do trabalho que as sociedades se
desenvolvem, se relacionam e se transformam. Dessa forma, refletir sobre o
conceito de mundo do trabalho é pensar como as sociedades estão organizadas. Ao
se analisar essa questão percebe-se sua ligação estrita com outras temáticas,
como por exemplo, educação, capacitação para os jovens e igualdade de
oportunidades, discussões atuais consideradas importantes para a formação de
nossos adolescentes e jovens.
O mundo do trabalho é o ambiente onde se
desenvolvem as forças produtivas, no qual o jovem pode se descobrir
profissionalmente e atuar na dimensão mais adequada às suas qualidades e
aptidões.
Pensando nisso, e tendo em vista o caráter
crítico, reflexivo e social do trabalho que pretendemos desenvolver, buscamos
elaborar, de forma dialógica, atividades e abordagens baseadas nos pontos
supracitados.
“O
mundo do trabalho é o ambiente onde se desenvolvem as forças produtivas no qual
o jovem pode se descobrir profissionalmente e atuar na dimensão mais adequada às suas qualidades e aptidões.”
Transformações no mundo do Trabalho e as consequências da sujetividade
Há várias décadas as indústrias vêm passando por processos de mudanças em suas operações, surgindo fábricas sem trabalhadores, as tecnologias dispensam a força de trabalho humano, vindo atingir diretamente os empregos, causando mudanças de comportamentos e tensões. É uma nova era, com a automação, com a robótica e microeletrônica invadindo o universo fabril. Desenvolvemse novas relações de trabalho e de capital, exigindo do homem e da mulher uma postura mais competitiva e com maiores habilidades e capacidades. Este sistema explora não só a força de trabalho, mas, também, a capacidade intelectual do indivíduo, exigindo dele maior esforço.
Diante desse cenário o trabalhador vem tendo que se adaptar e lidar com todas essas transformações, o que lhe traz tensões que podem prejudicar sua saúde. Algumas teorias explicam que o homem e a mulher, enquanto indivíduos, como seres pulsionais desejantes, sentem necessidade de satisfação e vão em busca dela, fazendo pressão sobre o psiquismo e conseqüentemente sobre o organismo (FREUD, 1926; FREUD, 1930). Sabemos da “enorme contribuição de Freud para o conhecimento do ser humano” (COUTINHO, 1991, p. 13). Ora, se consideramos que na sua di- mensão psíquica, a formação do indi- víduo está marcada pela satisfação e insatisfação, de desejo e de prazer, podemos afirmar que o desejo movi- menta o sujeito descentrando-o, fa- zendo com que busque constantemente o objeto de satisfação da falta. É o desequilíbrio/equilíbrio do organismo individual a característica central des- sa explicação do interrelacionamento humano com o mundo real.